quinta-feira, 27 de maio de 2010

Cesto de Letras

Decidida, Mariana correu à rua com a roupa que estava: uma calça surrada de ficar em casa, camiseta branca e tênis pra lá de usado. Cabelos ao vento, Mariana saiu a passos firmes. Daquele dia em diante, cataria as palavras soltas da sua rua. Onde já se viu deixar palavras caídas no chão, sem sentido ou significado? Ou pior: palavras malcriadas ou sem educação?

Tomou pra si o desafio de transformar sua rua num lugar digno de nota. Não era bem uma rua limpinha, de palavras comportadas que ela queria. Talvez, nem soubesse o que desejava, mas tinha certeza do que não queria. Onde já se viu jogar palavra no chão, igual lixo, sem valor ou reflexão? Palavras até vão ao vento, caindo como poesia, conto ou invenção. Mas assim, jogadas, abandonadas, ficam tristes, perdidas em grande solidão. Palavra precisa de companhia, não nasceu pra ficar no chão.

Com seu cesto de catar letrinhas, uma a uma, Mariana as juntou. Como já era tarde, ninguém a viu ou ouviu. Silenciosa como só ela, seus pensamentos travavam uma grande discussão. Feito o serviço, qual seria seu próximo passo?

- Vou com elas ou sem elas? Não posso deixar estas palavras sozinhas, agora abandonadas no meu cesto.

Mariana olhou seu cesto cheio. De A a Z, tinha até bola, chute, briga, amor, amizade, vergonha, carinho e palavrão. Tudo misturado: letras e palavras soltas. Umas doíam, outras nada sentiam e havia aquelas que a rua precisava. Mas palavra que é palavra só ganha significado quando tem autor. E quem diz ou escreve faz tocar o coração de quem recebe. Com seu cesto no colo, Mariana havia encontrado uma solução.
Passou a noite em claro. Juntou as letras e as palavras soltas como um grande quebra-cabeça. Cada letra ou palavra recolhida tinha seu formato, tamanho e cor. Mariana não pensava na forma, pra ela, o conteúdo iria se impor.

“Vizinho e vizinha,
Aqui coloco só as palavras que não machucam – no meu cesto, ficou um monte que dá até vergonha... – e com elas faço um pedido: vamos CUIDAR da rua. Nada de jogar palavras no chão. Você pensou na palavra que largou hoje? Em como ela se sentiu? E se fosse você que tivesse ficado sozinho? Acho que palavra sente frio. É que nem a gente, precisa de carinho. Não é justo deixar palavra jogada no chão. Pode falar, à vontade, o que quiser, quando quiser e pra quem quiser, mas deixe seu nome e diga pra quem é. As palavras agradecem: assim, elas vêm e vão, não ficam perdidas no chão.
Com amor, Mariana.”

3 comentários:

  1. Rachel (comadre),

    Realmente você nasceu para escrever!
    Adorei seu blog! Parabéns! Boa sorte na sua nova caminhada.
    Um grande beijo da amiga,
    Gildinha.

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  2. Querida,
    Muito obrigada!!!! Vc foi responsável pelo 1o comentário!
    Um beijo cheio de emoção,
    Rachel

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  3. Oi Rachel!
    Parabéns! Ficou ótimo o seu blog.Obrigada por compartilhar seu trabalho. Sucesso na sua nova empreitada. Um forte abraço.
    Graça

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