quarta-feira, 28 de maio de 2014

A cor do dia


 
O dia amanheceu branco. Cor de nada.
 
Rosa caminhou transparente até esbarrar com o cinza do dia.
 
- Dia, Rosa.
 
- Dia, Cinza.
 
Um raio próximo ao vermelho despontou no céu – um céu de Rosa, somente cinza:
 
- Parte minha é fria, a outra ainda não nasceu.
 
De repente, de mãos dadas ao vermelho, surge o amarelo.
 
- Rosa do céu, veja! Há beleza!
 
O laranja explodiu diante de Rosa.
 
- Alegria, minha gente, bora fazer uma manhã.
 
O galo cantou, Rosa nem olhou. O carro ligou, Rosa não partiu.
 
Foi, então, que chegou João. Pôs azul nos olhos de Rosa.
 
E violeta na cor do dia.
 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

O desembrulho


 
- Uma folha é um carinho feito à mão. Soprou a brisa quando a menina abriu o papel e encontrou a seda.
 
O desembrulho revelou uma folha nova. Insuspeitável.
Era marrom, mas não com certeza.
Eram tantos marrons...
 
Era uma mão, um afago.
Uma folha de pelos.
Era um ouvido, uma atenção.
Uma folha de cheiros.
Era uma pá, um barco.
Uma folha de braços.
 
A menina mergulhou no embrulho azul e escuro e desembrulhou algo puro. O outono estendia a mão e pedia:
- Leia o presente, sinta o futuro.