terça-feira, 8 de abril de 2014

O embrulho




Papel de seda, conteúdo de outono.

A menina passou os dias com a folha embrulhada. Não conseguia abrir.

Imaginava o seco, as rugas, o formato. Tirar a seda e desembrulhar o outono diminuiria o enfeite da estação.

Tão bonito supor a folha. Adivinhar seu significado.

Ela parecia antiga, retorcida. Marrom, com certeza.

Acomodada no azul escuro, via-se claro o muro. O que separa a delicadeza do papel e o áspero do conteúdo, é a mão imóvel, sem rumo.

A folha tinha ido do chão à seda. Do nada pr'algum lugar. Desabrigar a folha não seria despejo? E abrir uma fresta, invasão?

Resolveu deixar ela ali, quieta. Vai ver é até flor. Ainda tem cheiro, cor.

E de dúvida tomada, a casa dela passou a ser... O interior.