quarta-feira, 27 de abril de 2011

A maior mão do mundo



Pequena e audaz
Muito mais que capaz

Um menino quando quer
Faz da mão uma colher

Alimenta a flor
Sozinha, se esvaía

Feito líquido
Se der
          ra
             ma

Derrotada
Bem próxima à grama

Pelo líquido
                           vanta
                        le
                 Se

Já bem perto do céu
Quase alcança

Mão. Concha. Colher.
Chame como quiser

Brincadeira de gente grande
De um menino gigante

Provar o sabor da vontade
Fazer do sonho realidade

“A maior flor do mundo”’
É do José Saramago

“A maior mão do mundo”
É de um menino mago

Ilustração: João Caetano

Em Poesia, uma singela homenagem a José Saramago e "A maior flor do mundo"

Pela negação a história se impõe, cresce, toca...
Pela provocação outras histórias serão contadas...

Em Video, uma outra linda homenagem



segunda-feira, 25 de abril de 2011

Vento



O Vento sumiu e tudo parou. Sem Vento, o mar não tinha onda. O dia não tinha graça. A paisagem nunca mudava.

Houve uma vez em que Vento ventava. Mas, quando ele chegava, muita gente não gostava. Dado a mexer, movimentar, levantar pó, pensaram se não era melhor Vento ventar só.

Em país de brisa fácil, o desejo venta rápido. Amanheceu, então, o dia em que o Vento desapareceu.

Até a chuva se escondeu. Chuva sem Vento cai tão sem jeito, sem dança. Direto ao chão, sem qualquer mudança.

Parecia de papel, retrato emoldurado, um mundo de vento parado.

Enquanto todos de estátua fingiam brincar, uma criança resolveu o Vento chamar.

Puxou seu ar, soprou forte, agitou o corpo e... fez-se Vento.

Renovado, cheio de brisa e sereno, Vento voltou a deixar tudo mais ameno. Com sua graça improvisada de fazer alga z z z z zarra, Vento, agora, ventava.

A Onda



Uma onda invadiu a praia. Tão forte, pesada e barulhenta que logo pensei:

- Será que ela está aborrecida?

No segundo estrondo, a certeza. O mar sente igual gente.

Triste, chora longas ondas. Marcas profundas no chão.

Alegre, corre pra lá e pra cá, depressa. Brincando de bolinha de sabão.

Em fúria, arrasa e arrasta tudo. Gigante a amedrontar.

Há dias em que está calminha. Vira marola tranquila e nos convida a entrar.

A onda é o jeito de o mar falar.

Quando bate forte na pedra é um aviso de que o mar não está pra peixe. Melhor não mergulhar.

Gelada, anestesia a mente e, por um instante, nos misturamos ao mar. Sentidos entregues à vontade de nadar.

A onda não tira onda com a gente. É clara, faz espuma para explicar. Para bom entendedor, meia onda basta.

Dentro do mar, furo a onda, subo em sua crista, me escondo para esperar ela passar.

A onda é como eu. Adora brincar.

Eu sou como a onda. Também sei chorar.

Foto: Edmar Facó

À minha mãe, pelas revisões e apontamentos sempre tão oportunos.
Ao meu pai, pela inspiração.

Dona Sofia



Recebi uma carta
De Dona Sofia
Trazia carinho
E poesia

Palavra de presente
Cura dor
Cura doente
Traz amor
É surpreendente

Abracadabra
Mexe e abra
Dentro de si
Há mais palavra

Puxa daqui
Puxa dali
Dona Sofia
Mora lá, cá
Em todo lugar

Palavra é mágica
Formato de gente
Corre o mundo
Liberta a mente

Não precisa novo nome
Espalhar companhia
Correspondência
Prosa e Poesia
Noite e dia


Para Dona Sofia e seu criador, o autor e ilustrador André Neves.
Por um mundo cheio de Donas Sofias!