segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O auto-retrato



Álamo chegou em casa com uma idéia fixa: o auto-retrato. Só pensava nisso. O desafio foi anunciado na aula de artes. Cada um deveria fazer o seu auto-retrato. O alvoroço dos amigos, o barulho das aulas, o sinal do recreio, as conversas do dia... Tudo sumiu. Espaço mesmo só para a voz da professora Lúcia, que teimava em repetir na cabeça do menino: “Faça o seu retrato baseado na imagem que você tem de você mesmo”.

- Um retrato meu, feito por mim.

Não era a falta de jeito que invadia Álamo. Ele adorava desenhar, pintar, criar. Retratava o que via com certa facilidade. O grande dilema era ser ele a sua obra de arte!

- Um retrato meu: terá cabelos ao vento? Olhos castanhos? Pele morena e olhar transparente? Deverá ser colorido ou em preto e branco? Talvez, metade cor, metade sombra, como sou. Mas será este o meu retrato? Estarei ali, num único rosto? No fundo, na raiz de tudo, não sou o retrato do meu mundo.

Sem mais pensar, Álamo começou a brotar. Usou cola, tesoura, papéis de várias cores. Sobre a folha branca fez alta, forte, com raízes e muitos ramos, uma árvore. E no canto do papel, bem pequeno, escreveu: “Sou fruto e flor de onde vim. Um rosto é muito pouco pra mim”.


 À família Facó, pela força da nossa árvore!

Um comentário:

  1. ai, adorei!quero trabalhar seu texto com meus alunos na aula de artes, posso? grata! Fabíola

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