quarta-feira, 12 de setembro de 2012

À sombra da palmeira


 

A palmeira espana o céu. Do alto de sua majestade desenha nuvens. Alcanço apenas a sua possibilidade. E a reverencio.

Suas folhas arrastam a tempestade, jogam a chuva pra lá. Ver palmeira é ganhar céu azul. Varrer cinzas. Limpar o horizonte. Deixá-lo pontilhado de branco pra sonhar formas.

Acompanhar uma palmeira no seu exercício de descortinar o céu é enxergar todas as cores do branco.

Tão alta. Só toco o caule, arranho a superfície.

Na sombra do escritor, a vi florescer. Em mim. Depois, brotou curiosidade.

Palmeira floresce?

Floresce linda, exuberante, uma vez na vida. Pode levar de cinco a oito décadas. Depois da flor, de suspender olhares e ir além dela mesma, começa a morrer. Lentamente. Aos montes, espalha sementes. Dá adeus e cai por terra.

Do ar celestial ao andar do homem. Se gente vira estrela, palmeira vira grão. Do toque no céu ao esconderijo do solo. Num sobe e desce vagaroso.

Quem um dia a plantou aqui, nessas terras tropicais, sabia que não conheceria a flor. Floresceu antes. Quando isso aconteceu, desconfio que houve o encontro das pontas. A planta esticou num branco encardido e a estrela a tocou com a ponta brilhante.

Teve alguém que viu e fotografou. Deve ter olhado pro lado, pro filho, e uniu as pontas.

 

Para Luiz Raul Machado e seu Cristal, um dos brancos mais lindos.



Fotos:
Capa do livro "As 17 cores do branco", de Luiz Raul Machado,
Editora Galera Record, 2012. Ilustração Ana Freitas.
Matéria Veja.com, 09/12/2009, "Explosão de beleza". Foto Selmy Yassuda


3 comentários:

  1. Beleza!!! ... acompanhar uma palmeira no seu exercício de descortinar o céu é enxergar todas as notas do canto do sabiá... Bjs. Edmar.

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  2. Luiz Raul ficou emocionado com sua sensibilidade ao perceber que a palmeira do livro "pertencia" ao pai dele, senhor Raul Dodsworth.
    Ele, o filho, estava junto vendo a palmeira florescer se despedindo num último suspiro.
    Transformar o original, em livro,me faz transbordar de alegria. É uma honra ser agente desse poeta e mestre. Obrigada pelo belo texto.
    Um beijo, Ana Benevides

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    1. Ana,
      As palavras do Luiz Raul me tocam sempre. Esse livro em especial mora agora na minha cabeceira. Esse conto, em mim. Poucos foram os textos que me tocaram tão fundo. Na linha e na entrelinha li minha vó, cuja floração foi tão difícil de assistir... A beleza se esconde mesmo na dor...
      Sinto-me imensamente honrada com suas palavras e com o reconhecimento deste grande mestre e poeta. A palavra dele acordou a minha. Eu é que agradeço. Muito obrigada!
      Beijos,
      Rachel

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