Toda brincadeira parece feita pra avançar. Jogue o dado e ande o número de casas. Mire o chinelo, pegue-o sem pisar na linha e, se acertar, jogue de novo. Até o céu. Pule até cansar; tropeçou é a vez de outro. Assim, o jogo avança e recua. Parada obrigatória. Volte 3 casas. Perca a vez. Ganha quem chegar primeiro.
Será?
Numa partida, as aparências revelam conquistas. Um olhar conta: “quantas casas à frente?”. Um pé ansioso não hesita: “quanto pra chegar no céu?”.
Não conheço criança preparada pra perder. Nasceu já ganhando o mundo no berro. No jogo, pode olhar, é o mesmo. Perder, desde cedo, passa a ser uma baita lição. E de brincadeira em brincadeira, constitui-se um cidadão. Um dia – na verdade, em muitos – a gente perde. No outro – é bem verdade, em poucos – a gente ganha. Viver empatado, pra felicidade geral da nação, é raro, quase que nem bicho em extinção.
Quer ver jogo bom, assim pra tudo quanto é gente? É jogo inventado ou feito à mão. Jogo que vence o tempo e continua por aí. A bola que bate um bolão, a amarelinha que não perdeu sua cor, os jogos de tabuleiro, que até ganharam novos temas e embalagens, mas seguem sob o reinado dos pinos e do dado. A ciranda cresceu e as cantigas mudaram, mas ainda se vê crianças em roda. E pique-pega? Batatinha frita um, dois, três? Um punhado de gente e a brincadeira tá ali, pra pronta entrega. Aliás, um punhado de gente é o melhor dos brinquedos.
Vamos brincar de esconde-esconde? Contar até 10 – não vale olhar, hein? Tem quem olhe... Tem que sair pra todo lado pra se esconder, bem escondido. Tem quem queira aparecer... Mal esconde o riso. Foi achado, não vale denunciar o amigo. Tem quem aponte e o silêncio do gesto revela o escondido. Só não vê quem é cabra-cega, esconde-esconde revela-revela.
E assim, vestido de tempo, não ganha só quem chega primeiro. Quem um dia brincou conhece bem o segredo.
Ilustração: Edmar Facó
RACHEL,
ResponderExcluirSua narrativa tece com
as palavras imagens de
encantamento sobre os
brinquedos e permite que
o leitor projete, sobre
o que lê, sua vivência.
Lindo!
beijo
Cristina Sá
http://cristinasaliteraturainfantil
ejuvenil.blogspot.com
Oi Cristina,
ExcluirEssa é a nossa parada, o nosso ponto de encontro: nossos blogs! Adoro suas visitas e seus comentários, sempre generosos.
Obrigada,
Rachel
Seu conto me faz pensar q tudo q aprendemos na vida e para vida, aprendemos nas brincadeirinhas infantis com nossos amiguinhos e amiguinhas,na vila,na rua,na praçinha ou no parquinho ... bjs.
ResponderExcluirPai,
ExcluirO primeiro espaço do brincar é dentro de casa e tive a sorte de cair no seu quintal!
Valeu pelos estímulos de sempre!
Beijos,
Rachel
Como sempre, uma linda utilização das palavras que nos remete a infância e ao mesmo tempo ao jogo da vida : conquistas, relacionamentos, aprendizado, atitudes . Sensacional ! Beijo.
ResponderExcluirCris,
ResponderExcluirAmei sua visita e seu lindo comentário! Sensacional mesmo é ter você nas nossas vidas, jogando lado-a-lado com o meu pai!
Valeu!
Rachel
É isso Rachel,
ResponderExcluirnão ganha só quem chega em primeiro. Nesse tempo de pular, se esconder e achar, de correr,gritar e cantar, também ganha quem se esconde nos sonhos e se descobre em outro lugar.
Mais uma boa prosa.
Força,
Celso