A palmeira espana o céu. Do alto de sua majestade desenha nuvens. Alcanço apenas a sua possibilidade. E a reverencio.
Suas folhas arrastam a tempestade, jogam a chuva pra lá. Ver palmeira é ganhar céu azul. Varrer cinzas. Limpar o horizonte. Deixá-lo pontilhado de branco pra sonhar formas.
Acompanhar uma palmeira no seu exercício de descortinar o céu é enxergar todas as cores do branco.
Tão alta. Só toco o caule, arranho a superfície.
Na sombra do escritor, a vi florescer. Em mim. Depois, brotou curiosidade.
Palmeira floresce?
Floresce linda, exuberante, uma vez na vida. Pode levar de cinco a oito décadas. Depois da flor, de suspender olhares e ir além dela mesma, começa a morrer. Lentamente. Aos montes, espalha sementes. Dá adeus e cai por terra.
Do ar celestial ao andar do homem. Se gente vira estrela, palmeira vira grão. Do toque no céu ao esconderijo do solo. Num sobe e desce vagaroso.
Quem um dia a plantou aqui, nessas terras tropicais, sabia que não conheceria a flor. Floresceu antes. Quando isso aconteceu, desconfio que houve o encontro das pontas. A planta esticou num branco encardido e a estrela a tocou com a ponta brilhante.
Teve alguém que viu e fotografou. Deve ter olhado pro lado, pro filho, e uniu as pontas.
Para Luiz Raul Machado e seu Cristal, um dos brancos mais lindos.
Fotos:
Capa do livro "As 17 cores do branco", de Luiz Raul Machado,
Editora Galera Record, 2012. Ilustração Ana Freitas.
Matéria Veja.com, 09/12/2009, "Explosão de beleza". Foto Selmy Yassuda