A menina era uma torcedora incomum. No seu time jogavam todos. Lados não havia. Só pontos de vista, ou melhor, uma vista aqui e outra ali pra torcer.
Logo que aprendeu a ler, a menina juntou-se ao time que sabe perder. Perder, juntar e misturar. Era uma espécie de turma que via em letra, trela. Em anagrama, a grama de Ana.
Torcer era contorcer, girar, mexer. No seu campo, uma palavra rala pra ser outra. Sua brincadeira preferida era encontrar muitas palavras em uma, inverter pra ter e ver.
Por exemplo, pegava AMORTECEDOR, torcia e criava:
Ter cedo amor.
O amor tece ou amortece a dor?
Mora amor na dor ou mora a dor em Roma?
O morador tece.
Tece a roda do amor.
Morte ao amor na dor.
Outro dia, ela cismou com JABUTICABA, remexeu e virou:
A aba do jabuti
Acaba em ti.
Assim, torcer virou mania. A menina já sabia. Quando ia ao metrô descia ao temor. No palco só via polca. Num ator sempre uma rota. No sabor e na estação ela só enxergava uma rosa, seta em ação. No livro, virol ou voril, genérico do doril!
E Carroceria? Seria um raro rio que ia? Não, não podia. Era só um raro que ria. Em Mariana ela sempre via duas: Maria e Ana. De aquecedor, ela suspeitava: será que realmente aquece a dor?
Vai ver essa mania que anima, vinha do nome que a mãe havia escolhido pra menina.
Diva vida via e, por isso, torcia.
Muito bom. Seus contos estão, cada vez melhor. Bj. Edmar
ResponderExcluirOi Rachel,
ResponderExcluirobrigada pela visita. Amei o seu conto. Adorei o jogo de palavras.
Já sou seguidora e rpretendo voltar sempre por aqui.
beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/