Saudade tem idade? Se tiver, a que sinto dos meus avós vai comigo daqui pra eternidade. Saudade às vezes dói. De uma dor que não se apaga. Se esconde, anda, trabalha. Não some. Não dorme.
Avós. A chance de conhecer o lado doce da vida. Dos bolos, das vontades feitas porque feitas, das fantasias alimentadas com sorrisos, idéias, palavras, presença. Sem o amargo das broncas, sem a culpa do sim, do não ou do talvez. Avô não erra. Avô avança.
Avós. Feitos de presente. Presente do passado. Experiência e amor doados. Amor aos montes.
Quer brincar de casinha? A avó dá o arroz, o feijão, todos os grãos. Se espalhar? É só catar. Avó sabe que a conseqüência é o do tamanho que a gente vê.
- E isso, Vô? O que é isso no seu peito?
- É um botão de uma camisa que ficou preso. Grudado em mim.
- Como assim?!
- A sua Bisa foi passar a minha camisa de botão. Eu era um menino. Logo depois que ela passou, nem pensei: vesti. De tão quente que o botão estava aqui ficou.
- Posso apertar?
- Olha que tá quente, Chulinha. Vem devagar.
Eu fui. Uma. Duas. Três. Milhares de vezes. Como quem toca brasa em fogo, eu tocava o botão do meu avô. A cada toque, a mesma história. O ferro. A Bisa. O menino. O avô. O botão.
Vai ver que são feitos assim, os avós: botões em nossos corações. Estão lá. Apertados. Quentes. Pra sempre.
Aos meus avós: Celso, Maria da Penha, Maria da Penha e Eddie.