Não, não podemos falar sobre o perdão.
O amor também acontece no coração e muito se fala sobre ele.
E o perdão? Falo, logo, tudo perdoado.
Não, não podemos falar sobre o perdão.
O amor nasce e a palavra o alimenta (ou o mata de fome). Pode começar tufão ou ser apenas um sopro de amor. É falar dele que a imagem vem fresca. Ganha jardim. Voam os pássaros e as borboletas. Alcança-se um tronco torcido. Uma nuvem no céu. E pronto: o amor se inscreve. Até quando não há mais amor, se você fala dele o mantém vivo. É uma coisa sublime. Pode ser inventada.
O perdão é assim. Você recebe um aviso no peito: perdoa. Feito. Tranque o perdão e siga em frente. Sem tocar no assunto. Só que tem assunto com vontade própria. Vai você falar de perdão por isso, por aquilo e descobre: a porta está encostada. Dos infernos, o que você sente não é nem primo distante do perdão. Você quer morrer. Matar. Não adianta falar, você está longe. Longe de perdoar.
Dia desses, alguém disse: você perdoa quando não tem mais necessidade de falar.
Então, é isso? O perdão é calado?
Não chega anunciando feito amor. Nem quebrando pratos feito ódio.
O dia em que o perdão chega a gente nem sente. Senta e toma chá.
O perdão, suspeito, deve vestir manto branco. Envolve o coração e o faz parar de sangrar.
Perdão é paz?
Não, não podemos falar.
Foto 1: Sônia Ribeiro
Foto 2: Catarina Ribeiro
Manto Mana, exposição "Maria de todos nós".