quinta-feira, 23 de maio de 2013

Feito de voo

 
 
Foi há pouco. Vi onde ele mora. Não tem nem uma semana, o vi voar.

Primeiro pousou inesperadamente na bermuda jeans. Eu nem estava sentada. Caminhava distraída com a Lupa, minha parceira de passos curtos e ritmados pelo bairro. Eu a guiá-la ou, talvez, o inverso, e um bater de asas pousou em mim.

Estátua. Se pudesse suspendia o latido da Lupa e engolia pra sempre o ar. Só que coração, apesar de escondido, revela gente. Uma batida avisou que eu não era de pedra.  Até a descoberta, foram cinco segundos de magia. Preta e azul. Cinco segundos pro olhar despertar. Na tentativa de capturar o instante, ele, aquele que se esconde, revelou:

- Não nasci pro flash. Sou feito de voo. Esconde-esconde.

Acordada, acompanhei a parada seguinte. O preto sumiu no azul e vi surgir o amarelo, em novo esconderijo. Nessa hora, brotou pensamento:

- Uma folha borboletando ou uma borboleta folheando?

Aprendi a ler na folha outro dia. O esconderijo é delicado como um bater de asas. Abre e fecha. Revela e some. 



Pra turma querida da Estação das Letras
que gosta de brincar de esconde-esconde.
 
Foto: arquivo pessoal