Primeiro pousou inesperadamente na bermuda jeans. Eu nem estava sentada. Caminhava distraída com a Lupa, minha parceira de passos curtos e ritmados pelo bairro. Eu a guiá-la ou, talvez, o inverso, e um bater de asas pousou em mim.
Estátua. Se pudesse suspendia o latido da Lupa e engolia pra sempre o ar. Só que coração, apesar de escondido, revela gente. Uma batida avisou que eu não era de pedra. Até a descoberta, foram cinco segundos de magia. Preta e azul. Cinco segundos pro olhar despertar. Na tentativa de capturar o instante, ele, aquele que se esconde, revelou:
- Não nasci pro flash. Sou feito de voo. Esconde-esconde.
Acordada, acompanhei a parada seguinte. O preto sumiu no azul e vi surgir o amarelo, em novo esconderijo. Nessa hora, brotou pensamento:
- Uma folha borboletando ou uma borboleta folheando?
Aprendi a ler na folha outro dia. O esconderijo é delicado como um bater de asas. Abre e fecha. Revela e some.
Pra turma querida da Estação das Letras
que gosta de brincar de esconde-esconde.
Foto: arquivo pessoal