sábado, 11 de setembro de 2010

O mosquito e a tosse



Zzzz… Zzzz… Zzzz…
Cof, Cof. ... Cof, Cof.
A sinfonia não parava.
Zzzz… Zzzz… Zzzz…
Cof, Cof. ... Cof, Cof.

À noite os dois sons se reuniam em perfeita harmonia e a menina, em claro, não dormia.

Zzzz... Zzzz... Zzzz... Concentrada no mosquito, seguia o seu vôo. De zumbido em zumbido, sentia o baile do atrevido. Cobria-se toda. Não sobrava um pedacinho seu pro danado do mosquito, mas ela sabia que sua vigilância tinha hora. O sono ia chegar e ela não teria como escapar. Ele ia invadir seu esconderijo ou ela mesma abriria caminho se descobrindo.

Um olho pregou e o outro quase acompanhou. De repente, um novo som entrou.

Cof, Cof. ... Cof, Cof. Era tosse da mãe.
Vai ver era o aviso de quem ama.
Vinham os mosquitos: Zzzz... Zzzz... Zzzz...
Contra-atacava a mãe em defesa da filha: Cof, Cof. ... Cof, Cof.

Uma batalha. Noite adentro.

Tris-tras. Tris-Tras. Tris-tras.
Os passos arrastados do pai rumo à cozinha.
Fiuuummm-fiummm! O fogo fazia borbulhar a água do chá.

Tris-tras. Tris-tras. Tris-tras.
Os passos de volta à cama. Ao encontro da mãe. A menina podia sentir o pai, meio lá, meio cá, acariciar os cabelos da mãe e desejar pro chá, milagroso, adormecer a garganta da mulher. Soldado atento ao inimigo, meu pai não dormia em perigo.

Tris-tras. Tris-tras. Tris-tras.
Com a caneca vazia na mão, o pai ia ver a única filha. Cobertas no corpo, ok. Temperatura, ok. Carinho de última hora, ok.

A menina sorria sem ele ver. De olhos fechados, meio lá, meio cá, ela se despedia em silêncio do pai. Ela e a tosse.
Os mosquitos: Zzzz...Zzzz...Zzzz...